12/02/2021

Ao longo dos últimos nove meses, a Águas do Porto e o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) têm vindo a monitorizar, semanalmente, a presença de SARS-CoV-2 nas águas residuais afluentes às ETAR do Freixo e Sobreiras. Os resultados obtidos permitem confirmar a presença do material genético do vírus e a importância das ETAR na sua remoção.


O projeto colaborativo vem responder a uma urgência nacional de monitorização integrada do SARS-CoV-2, e tem como principal objetivo desenvolver um sistema de monitorização regular do vírus nas águas residuais afluentes às ETAR (Estações de tratamento de águas residuais) do Freixo e de Sobreiras, que permita detetar a sua circulação na comunidade.


Iniciado em meados de maio de 2020, altura em que Portugal contabilizava entre 200 a 300 testes positivos diários, até ao final de janeiro deste ano já permitiu quantificar por qPCR (quantitative real-time PCR) cerca de 60 amostras, colhidas semanalmente nas ETAR de Sobreiras e Freixo.


Os resultados obtidos até ao momento permitem confirmar a presença do material genético do vírus nas águas residuais e relevância do tratamento das ETAR na sua remoção.


“Através da análise dos efluentes tratados ficou comprovado que os processos de tratamento das ETAR são eficazes. De salientar também os resultados referidos pela equipa do CIIMAR. Só é possível desenvolver um sistema de alerta precoce porque o SARS-COV 2 é detetado nas águas residuais antes da sua manifestação na comunidade”, assinala a equipa da Águas do Porto envolvida no projeto.



Metodologia de deteção do vírus


Numa fase inicial do projeto, a equipa do CIIMAR validou um método sensível de deteção e quantificação do SARS-CoV-2 nas águas residuais. O projeto avançou com a otimização dos métodos de amostragem, preservação, concentração, isolamento de RNA, deteção e quantificação do vírus SARS-CoV-2 por RT-qPCR.


Durante todo o processo, garantiu-se a inativação do vírus antes do início do processamento das amostras no laboratório, de forma a garantir todas as normas de segurança associadas à manipulação.


O apoio inicial do I3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, da Universidade do Porto foi também fundamental, nomeadamente na validação da adaptação de metodologias utilizadas em amostras clínicas para posterior aplicação em amostras de águas residuais.


Atualmente, a equipa está ainda a criar um arquivo de amostras e de material genético, devidamente catalogado e criopreservado, a partir de colheitas periódicas realizadas nas ETAR do Freixo e Sobreiras.


O material genético arquivado será utilizado para complementar a caracterização da diversidade genética do vírus em circulação no sistema de saneamento e modelação epidemiológica e ecológica dos dados gerados, complementando a vigilância clínica.


O trabalho conjunto da empresa municipal Águas do Porto e da equipa do CIIMAR-UP - que conta ainda com a colaboração da USP - Unidade de Saúde Pública dos ACES (Agrupamento de Centros de Saúde) Porto Ocidental e Porto Oriental e da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa - permitirá produzir dados essenciais para complementar a vigilância clínica e apoiar políticas públicas e ações de prevenção. A pesquisa surge igualmente como ferramenta essencial na verificação da eficiência dos processos de tratamento na eliminação de SARS-CoV-2 das águas residuais.


“Esta parceria com a Águas do Porto é muito relevante para o CIIMAR de forma a alinhar as nossas atividades de investigação com as necessidades de dar resposta a emergências de saúde pública de dimensão nacional e internacional, neste caso em particular viabilizar a implementação de protocolos de monitorização integrada de SARS-CoV-2 com o objetivo de estabelecer um sistema de vigilância sensível cobrindo todo o ciclo de circulação do vírus na comunidade”, afirma a equipa de investigadores do CIIMAR, constituída por Ana Paula Mucha, Catarina Magalhães, João Carneiro, Maria de Fátima Carvalho, Maria Paola Tomasino e Miguel Semedo.


Para a Águas do Porto, o projeto é “de extrema importância” para a operação das ETAR, “uma vez que se trata de uma ferramenta importante na avaliação da carga viral dos afluentes às ETAR e na verificação da eficiência dos processos de tratamento de águas residuais”, reforça a equipa envolvida no projeto, nomeadamente os engenheiros Pedro Vieira, diretor de Inovação, Elza Ferraz, coordenadora da unidade de Águas Residuais, e Adelaide Rocha, coordenadora do Laboratório da Águas do Porto.