Nova escultura de Julião Sarmento integra a Rota da Água, um
dos cinco trajetos temáticos que orientam a visita ao museu a céu aberto em que
o Porto se está a transformar, segundo os conceitos de "cidade
líquida" e de "cultura em expansão" aplicados no terreno.
"Self-portrait as a fountain" é o nome da primeira
obra pública de Julião Sarmento na cidade e foi ontem inaugurada nos jardins de
Nova Sintra, sede da empresa municipal Águas do Porto, numa cerimónia em que a
Câmara apresentou o Mapa de Arte Pública do Porto. A referida obra pode ser
visitada a partir de outubro, altura em que estará concluída a recuperação da
mata e jardins.
A escultura integra a Rota da Água que, juntamente com as
rotas Histórica, das Letras, Escola das Belas Artes e Arte Contemporânea,
compõe o Mapa de Arte Pública apresentado pelo presidente da Câmara. Cada rota
é composta por 10 obras, totalizando por isso 50, que foram destacadas de entre
as 219 referenciadas no mapa.
Como explicou Rui Moreira, este Mapa de Arte Pública está
subjacente ao Programa de Arte Pública lançado há dois anos, com forte
contributo da ideia visionária de Paulo Cunha e Silva, e cuja primeira
inauguração foi o painel de Fernando Lanhas no túnel da Ribeira.
O programa visa "criar um verdadeiro museu ao ar livre
em que toda a cidade se envolva", afirmou Rui Moreira, revelando que uma
obra de Alberto Carneiro será instalada no Largo de São Domingos no final deste
ano.
A apresentação do Mapa de Arte Pública e inauguração
simultânea da escultura de Julião Sarmento assinalou também a recuperação dos
jardins românticos de Nova Sintra, cerca de três hectares que, provavelmente no
mês de outubro, estarão concluídos para fruição pública e onde "a obra do
Julião Sarmento será sem dúvida um dos atrativos", disse Rui Moreira, que
o apontou como "um artista inconfundível". E vem, assim, ao encontro
do conceito também lançado por Paulo Cunha e Silva de "cidade líquida,
porque também aqui acontece cultura", sublinhou o presidente da Águas do
Porto, Frederico Fernandes, estendendo os elogios à equipa da Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto que está a reabilitar os jardins.
Julião Sarmento, que tem apenas outra obra pública em
Portugal, designadamente em Matosinhos, comentou por isso que "o Norte
gosta mais de mim do que o Sul, mas isso agrada-me". Explicou também que
"Self-portrait as a fountain" encerra uma grande inspiração no
escultor Bruce Nauman, de quem é mesmo um auto-retrato mas na forma feminina.
Cinco rotas com
dezenas de histórias da cidade
O Mapa de Arte Pública conjuga obras já existentes na
cidade, desde algumas datadas do século XIX até à hoje inaugurada e outras
ainda por instalar, por forma a possibilitar também a ideia de continuidade
evolutiva do Porto e do seu património.
Cada uma das 50 obras tem associada uma sinopse auxiliar,
enquanto as restantes estão identificadas com um índex (título, autoria,
localização, data e natureza material) e podem ser também agrupadas em eixos a
percorrer.
As cinco rotas são, por isso, cinco itinerários temáticos
para avolumar o interesse pelo Porto, a cidade e as suas narrativas.
No caso da escultura de Julião Sarmento, é a sexta obra do
Programa de Arte Pública e uma das 10 que compõem a Rota da Água, onde se
dá enfase a um elemento vital para a vida e que constituiu o meio privilegiado
de expansão da cidade do Porto. Dela fazem também parte trabalhos de Alberto
Carneiro, Tomás Costa, Lagoa Henriques/Vasco Mendes/Luís Cunha, J.J. Teixeira
Lopes, Américo Gomes/Manuel Marques, Eduardo Souto de Moura, Barata Feyo/Solà
Morales, José Rodrigues e Janet Echelman.
A Rota Histórica, que abrange alguns dos momentos
mais importantes dos quase dois mil anos do burgo, vai da estátua d' "O
Porto" na Praça da da Liberdade até até à da "República" na
Praça da República. No conjunto, leva-nos a conhecer melhor obras assinadas por
Barata Feyo, Anatole Calmels, João Allão, J. J. Teixeira Lopes/Almeida da
Costa, Américo Braga, Henrique Moreira/Manuel Marques e Bruno Marques.
A Rota das Letras faz-nos viajar de Guerra
Junqueiro a Almeida Garrett, Arnaldo Gama, Camilo, Ramalho Ortigão, Júlio
Dinis, Abel Salazar, Leonardo Coimbra, Carolina Michaëlis e Eugénio de Andrade,
numa homenagem aos grandes escritores que nos cantaram e sonharam.
Outra vertente de inestimável valor para a cidade é a
academia que formou grande parte dos artistas assinalados na Rota das
Belas Artes: Soares dos Reis, A. Teixeira Lopes, Barata Feyo, Lagoa Henriques,
Gustavo Bastos, José Rodrigues, Sousa Caldas, Zulmiro de Carvalho, Carlos
Marques e Fernando Távora.
Apenas por questão cronológica, surge em último a Rota
de Arte Contemporânea, que nos permite desvendar algumas das linguagens
artísticas mais relevantes do nosso tempo e que projeta para o futuro a
capacidade criadora dos portuenses. Dela constam obras de Richard Serra, Ângelo
de Sousa, Cabrita Reis, Juan Muñoz, Dalila Gonçalves, João Louro, Rui Chafes,
Alberto Carneiro, Júlio Resende e Fernando Lanhas.
O Mapa de Arte Pública - cuja imagem segue o projeto de
identidade e logomarca do Programa de Arte Pública desenvolvido para a Câmara
do Porto pela designer Joana Machado, diretora artística do estúdio portuense
Colönia - estará disponível gratuitamente em locais como os postos de
turismo, o aeroporto e outros pontos estratégicos.